eu "acho"
Querida Manu,
Estanho, penso que minha última postagem não foi publicada. Me atrapalhei aqui com os comandos do blog. Por aqui muita chuva e muitas coisas para contar.
De qualquer forma, vou continuar a pensar, por aqui contigo, mesmo que com interrupções "o tempo não é tudo". Nas últimas semanas venho acompanhando a disciplina de "LABORATORIO DI PROGETTAZIONE ARCHITETTONICA E URBANA", coordenado pelo Piccio.
Tudo esta acontecendo lá no Instituto San Michele (http://www.irsm.it/), fica no "Quartiere XX Ardeatino", ao sul do centro histórico de Roma. Faço o trajeto de autobus, sempre cedo, as 8 da manhã, uma pequena caminhada até a parada do autobus 716, em frente a prefeitura de Roma, o trajeto deve durar uns 40 minutos, o autobus fica lotado e esvazia antes de chegar lá, eu observo as pessoas indo para o trabalho, em rotinas diárias, me sinto como um estranho "turista", um observador, um vaga-mundo...
O Instituto Romano San Michele é um conjunto de vários edifícios, com vários usos: asilo, escola, creche, centro de imigrantes, centro cultural, igreja, teatro, moradias, ocupação, abandonos, ruínas, estacionamentos, etc. Todo esse complexo de edifícios e "passagens" que os interligam está interrompida pelos administradores, a ideia é integrar os edifícios e o resto da cidade. O tema geral da proposta: "o circo" (circus).
A turma, como me disse o Piccio: "é composta por: 5 franceses, 5 chilenos, 5 italianos", ... de vários adiantamentos e divididos em grupos diversos, antes do meu acompanhamento fizeram caminhadas, mapas e performances pelo lugar - reconhecimento. Ainda temos uns 6 professores colaboradores (Maria, Serena, Alberto, Enrico, não consegui gravar todos os nomes ainda), o Flavio Marzadro, 1 arquiteto-economista Fabrizio Finucci e eu. Todas as aulas - atelier - foram deslocadas para o San Michele (temos uma sala enorme lá, com mesas, cadeiras, etc.), ao todo 12 horas por semana, as segundas e terças-feiras, das 9 as...noite, as vezes só as terças. Esse deslocamento do atelier é uma proposta nova, é a primeira vez que se propõe viver 100% das aulas da disciplina no "lugar do projeto" e não nos ateliês da Roma Tre.
Os alunos apresentaram um masterplan conjunto, projetos para partes (em grupos) e propostas individuais, sempre variando escalas e sobrepondo mapas e plantas. Também apresentaram cortes esquemáticos das propostas e desenhos tridimensionais em vários painéis e discussões. Surgiram várias propostas dos grupos: café literário, habitação, sex worker, praças, teatro, centro de artes, horta comunitária, espaço meditação, palestra libera, escola de trocas, baby parking, asilo informal, etc.
No final de fevereiro, dia 26, teremos um dia de exames, aberto a comunidade, onde os alunos vão apresentar suas ideias com uma exposição itinerante no complexo de San Michele. O exame será composto por 3 ítens: 1-série de desenhos (gráfica), 2-relação com os habitantes (relacional) e 3-instalação (instalativa).
Tenho participado observando tudo, anotando, fotografando, ouvindo; talvez por timidez ou por não falar italiano; sinto todos um pouco desconfiados com a minha presença. Minha ideia não é julgar nada, mas sim pensar "com", ou pensar além-mar sobre o ensino de projeto de arquitetura e urbanismo, a partir das experiências do Piccio e das minhas e de outros.
Vislumbro pistas de ensinar projeto em deslocamentos ou "desloucamentos" - projeto caminhado. Há necessidade de andar, caminhar, errar, deslocar o olhar, a representação, o significado, o corpo, os lugares e o tempo. O projeto caminha em escalas, caminha pelo corpo, percorre trajeto, ele pensa por si. Assim como eu e tu nos deslocamos de Pelotas-Roma. Essa é a busca, não por respostas, mas formas de deslocamento: como nos deslocamos? qual é a composição? porque?
Faz alguns dias, ouvi o Piccio no Macro, falar sobre "Zonzo". Em português costumamos dizer "estou zonzo!", estou mareado, estou tonto, estou surdo, numa espécie de vertigem - do mundo. Desconectado das regras, do mundo, das estruturas, das leis, das normas, etc. Estaria aí a grande chave da criação? Nessa fresta, nesga, entre-meio...eu acho, eu acho, eu acho...?!?#
Tenho pensado muitas coisas ao mesmo tempo, que nunca vão estar "claras", sempre scura, "enxergar não as luzes, mas sua escuridão (Agamben).
Bj e até breve. Arrivederci.
Maravilha de Lugar me parece bem tranquilo, ele tem aquela sensação de domingo ou é bem movimentado Mestre!!!
ResponderExcluirO bairro é "tranquilo". O centro histórico bemmmm movimentado.
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